Jardim Suspenso - Casa das Lameiras
Memória Descritiva
Com uma área total de 158m², o Jardim Suspenso da Casa das Lamelas encontra-se inserido na malha habitacional do centro histórico de Guimarães, num largo caracterizado por importantes construções da cidade seiscentista, como a “Casa dos Navarro de Andrade” (actual Arquivo Alfredo Pimenta), a “Casa dos Portugal” e não esquecendo também a “Casa das Rótulas” proveniente da primeira metade do século XVII, com uma arquitectura de tradição mourisca. Até finais do séc. XVI e inícios do séc. XVII, esta zona era essencialmente composta por rossios, apenas a partir desta data se começa a observar um desenvolvimento urbano do quarteirão, tendo surgido entre outras, as já referidas edificações.
Através da análise de plantas de urbanismo da cidade, foi possível verificar (no intervalo temporal referido anteriormente) a existência de uma malha habitacional no local onde se encontra o edifício em análise, sendo provável que a construção de então pudesse estar ligada a actividades agrícolas e aos rossios existentes nessa zona.
Com o passar do tempo, a construção foi sofrendo alterações, sendo registo de evoluções construtivas e programáticas do edificado. Devido à existência de uma nora no jardim, cuja tipologia surgiu entre os séculos XIX e XX (também denominada de “Bomba Moderna” ou “Bomba Volante” e que poderá ter surgido no local pela proximidade do edifício aos rossios), é provável que, entre este período, o conjunto edificado se tenha consolidado em habitação familiar com uma imagem mais ou menos semelhante à que nos chega até aos dias de hoje.
O Jardim localiza-se a uma cota superior à da via pública, sendo possível aceder-lhe exclusivamente pelo interior do piso superior da habitação. Desta forma, o acesso visual ao interior do jardim através da via pública é praticamente escasso.
O jardim é ladeado por altos muros de pedra a norte, sul e oeste, sendo possível, neste último, observar a presença de uma fonte barroca com tanque. Embora o conjunto não pertença originalmente a este largo, a sua significância histórica e cultural tornam o local ainda mais relevante. No interior do jardim é possível observar-se elementos que, graças à sua materialidade, história e função, caracterizam o local, sendo que alguns estão funcionais e outros desempenham apenas um papel simbólico devido à sua inutilização. Aproximadamente ao centro do espaço, é possível observar a existência de uma nora e de um tanque, sistema que se encontrava desactivado, mas com a actual requalificação, voltou-se a activar o engenho. O comprimento dos muros norte e oeste é limitado por esteios que apoiam uma ramada, objectos verticais em aço.
O pavimento é caracterizado pela variação entre elementos em pedra e em terra vegetal, estando organizados através de divisões geométricas de forma aproximadamente poligonal rectangular e dispostos sem uma aparente lógica de organização espacial. Este pavimento é ainda caracterizado por uma irregularidade de cotas acentuada pela própria materialidade dos materiais em alvenaria. É ainda de salientar a existência de elementos em pedra que evidenciam a narrativa temporal construtiva do espaço, como as três “namoradeiras”, sensivelmente a eixo de cada um dos muros delimitadores do espaço, e as pilastras verticais em pedra, que ladeiam e marcam locais de passagem.
Embora o jardim se insira numa tipologia construtiva antiga, é pretensão do proprietário renovar o espaço exterior com a finalidade de potencializar o seu aproveitamento, organizando-o de forma funcional e dotando-o de materiais e técnicas construtivas contemporâneas que se harmonizem com as pré-existências caracterizadoras do local.
O projecto obedeceu a um conjunto de princípios e intenções que formalizam a proposta de intervenção:
- Manter uma lógica de organização e divisão espacial baseada em formas poligonais rectangulares;
- Manter elementos caracterizadores do espaço, inalterando a posição de alguns e relocalizando outros;
- Reaproveitar materiais de alvenaria do pavimento;
- Atribuir ao espaço novas materialidades que se harmonizem com as existentes, criando um diálogo entre passado e presente;
- Introduzir o elemento água no espaço através da construção de um espelho de água.
O programa pretendido para o jardim baseou-se em dois principais gestos projectuais: a regularização do pavimento e a divisão do espaço em áreas distintas com funções específicas.
A primeira intervenção teve como finalidade regularizar o pavimento para que a cota seja constante ao longo de todo o espaço; este aplainamento teve como referência a cota inferior da soleira da cozinha.
O espaço foi divido em quatro principais áreas distintas: uma zona de estar ao ar livre, uma zona de refeições ao ar livre, uma zona de apoio à cozinha e máquina AVAC existente e uma zona verde com um espelho de água.
A divisão do espaço seguiu traços com orientações e formas semelhantes às anteriormente existentes, mantendo uma imagem alusiva ao passado. Assim, a intervenção pretendida no jardim não visou alterações volumétricas e altimétricas mas antes uma reorganização espacial assente na utilização de diferentes materiais.
INFO
Dono de Obra
Carolina e André M. Amaral
Localização
Guimarães, Braga - Portugal
Projecto
Filipa Guimarães - Arquitectura e Reabilitação
Obra
2019 - 2020
Área
158 m2
Arquitectura
Filipa Guimarães
Colaboradores
Ana Ferreira
Engenharias
Serralho, Engenharias Lda; Calculos - Engenharia e Construção